É fácil romantizar décadas da história. Podemos rotular os anos 1960 como um reduto de hippies ou os anos 1990 como a última grande década do liberalismo britânico. Mas, na verdade, compreendemos a realidade contraditória de cada época. A arte que valorizamos de cada era só é tão boa porque surgiu de tempos conturbados — e nos anos 1970, problemas não faltaram.
É amplamente considerada a melhor década da música, uma altura em que o rock and roll ainda reinava, mas começava a dar lugar ao surgimento de novos géneros. A soul estava em plena força, a disco tinha irrompido com impacto, e as bases do hip-hop contemporâneo estavam a ser lançadas. A música estava no melhor estado possível, precisamente porque a sociedade não estava.
Nova Iorque era uma sombra sombria e decadente de cidade, enquanto o Reino Unido caminhava para um colapso económico. Ao mesmo tempo, deflagravam guerras civis na Europa de Leste, América do Sul e África, fragmentando uma sociedade global profundamente insegura quanto ao futuro. A música, por isso, era um farol de esperança que brilhava na escuridão, oferecendo compreensão aos seus ouvintes.
Apesar do crescimento de novos géneros, nenhuma música captou melhor esse espírito turbulento da época do que o rock and roll. Mas não era um som homogéneo, baseado em quatro acordes e uma guitarra eléctrica. Estava a ser levado para territórios experimentais. Fosse o prog rock dos Pink Floyd, o psicadelismo dos Grateful Dead ou os sons suaves da música americana tradicional, tudo era único e com nuances próprias.
Mas não era preciso ser esotérico para ser inovador. Veja-se o exemplo de Joni Mitchell, cuja sensibilidade assentava numa estrutura de canção tradicional, mas abordada de forma profundamente criativa.
“Ela era tão nova e fresca na forma como o fazia”, disse David Crosby ao comentar o estilo de guitarra dela, “São aquelas afinações estranhas que atrapalharam milhares de artistas que tentam fazer com que a ‘Big Yellow Taxi’ soe como a ‘Big Yellow Taxi’ dela.”
Foi uma época de grande colaboração entre artistas que construíram legados, e os fãs tinham muito por onde escolher. Para se destacar, a música tinha mesmo de ser extraordinária, e por isso surgiram algumas das melhores criações da história da música.
Mas afinal, qual foi a música de rock mais vendida dessa década?
O mais notável dessa época era a abertura de espírito dos fãs. Não havia conversas como as de hoje sobre a duração ideal para passar na rádio; os gigantes experimentais e longas introduções de guitarra eram bem-vindos, e as tabelas refletiam autenticidade musical. Por isso, não é de surpreender que a canção mais vendida da década tenha sido uma ópera rock com seis minutos.
Sim, sem grande surpresa, a música de rock mais vendida dos anos 70 foi ‘Bohemian Rhapsody’, dos Queen. Lançada mesmo a meio da década, dominou as tabelas, ficando nove semanas no topo e vendendo um total de 2,62 milhões de cópias.
