Além de ter alcançado o topo da tabela americana Billboard 200, o trabalho vendeu mais de 30 milhões de cópias. É considerado um dos melhores discos da história por veículos especializados.
Porém, para o artista, o material apresenta um grande problema: o resultado final não foi necessariamente como gostaria.
Canções como “My Hometown”, na qual denuncia a violência racial percebida onde cresceu, e a faixa-título, onde critica o descaso com os veteranos da Guerra do Vietname ao retornarem para os Estados Unidos, mostraram o que The Boss tinha em mente. Em contrapartida, o resto das faixas não tinha nenhum grande significado para o músico.
À Rolling Stone, ele explicou:
Foi o disco que eu fiz, mas não necessariamente o disco que eu queria fazer. […] Se você ouvir ‘My Hometown’ e a faixa-título, vai ver que elas mostram os dois extremos que eu tinha em mente. E o resto das faixas era… apenas o que eu tinha naquele momento, músicas que compus e gravei naquela época. Da concepção à execução, não foi exatamente o álbum que eu havia planeado na minha cabeça, mas é assim que a criatividade funciona. Você entra no estúdio com uma ideia. Nem sempre é com ela que você sai.
Idealmente, “Born in the USA” devia ter um aspecto mais sombrio, o que o artista não conseguiu alcançar. Por outro lado, Springsteen reconhece que, assim como queria, deu continuidade aos temas abordados em “Nebraska” (1982), álbum no qual trouxe principalmente a realidade complicada de trabalhadores.
Bruce Springsteen e o equívoco com a música “Born in the USA”
Na autobiografia “Born to Run” (2016), Bruce Springsteen menciona que o álbum “Born in the USA”, sobretudo a faixa-título, acabou sendo interpretado de forma errada como um acto de patriotismo, mas deixou claro que não mudaria nada no disco. Na obra, o cantor também novamente destacou como o resultado final era diferente do que havia imaginado:
Grande parte de ‘Born in the USA’ foi gravado ao vivo, com a banda inteira, durante três semanas. Depois descansei um pouco, gravei ‘Nebraska’ e só mais tarde voltei ao meu álbum de rock. ‘Born in the USA’, ‘Working on the Highway’, ‘Downbound Train’, ‘Darlington County’, ‘Glory Days’, I’m on Fire’ e ‘Cover Me’ acabaram sendo basicamente todas finalizadas durante os primórdios do disco. Depois o meu cérebro pareceu congelar. Não me sinto muito confortável com o aspecto pop do material pronto e queria algo mais profundo, mais pesado, mais sério […]. No final acabei voltando ao meu grupo de canções inicial. Encontrei ali um naturalismo e uma vivacidade com que era impossível competir. Não era bem aquilo de que estava à procura, mas era o que eu tinha.
A gafe histórica de Ronald Reagan envolvendo “Born in the U.S.A.”, de Bruce Springsteen
A temática da faixa que dá nome ao disco gerou até mesmo uma confusão por parte de Ronald Reagan, à época presidente dos Estados Unidos. Num discurso, o político afirmou, claramente sem ter entendido a composição:
“O futuro da América reside nos milhares de sonhos que existem em vossos corações; reside na mensagem de esperança das canções que nossos jovens admiram; nas canções de Bruce Springsteen, filho de Nova Jersey.”
No terceiro volume de “Born to be Wild: The Golden Age of American Rock” (2014), o editor senior da revista Rolling Stone, David Fricke, dá o seu parecer:
“A canção é sobre um homem nascido nos Estados Unidos que volta do Vietname com uma visão totalmente deturpada da sociedade americana. Não é um mantra patriótico, e sim uma ode a um sistema falido. O Grande Comunicador, quem diria, enganou-se completamente em relação a um dos maiores clássicos da história do rock.”
Springsteen comentou a gafe em entrevista para a National Public Radio em 2005:
Foi o primeiro caso de republicanos se apropriando de toda e qualquer coisa que a eles parecesse fundamentalmente americana, e se você se opusesse a isso, era rotulado de antipatriota. Sou americano e escrevo sobre o país onde vivo e sobre coisas com as quais me deparo nesta vida; coisas que me sufocam e contra as quais eu sempre lutarei.
