Quincy faleceu no final do ano passado, e neste começo de 2025 completamos exactos 40 anos daquela sessão que reuniu cerca de 45 dos maiores artistas do planeta no mesmo estúdio, o A&M em Los Angeles.
Pensando nessas duas datas especiais, reunimos cinco curiosidades dos bastidores de “We Are The World”, incluindo algumas que aparecem no documentário A Noite que Mudou o Pop, lançado pela Netflix em 2024.
Ainda lembramos alguns factos menos conhecidos daquela noite que não teve só solidariedade, mas também uma boa dose de tensão, rivalidade e caos.
Gravação só poderia ter acontecido naquela noite
Qual a melhor (ou única) forma de reunir os maiores artistas dos EUA num único lugar? Exactamente, com um evento! Quincy e os compositores Michael Jackson e Lionel Richie viram a oportunidade de gravar “We Are the World” logo após uma edição do American Music Awards, que aconteceu num auditório próximo.
Para lá da meia-noite, estrelas como Bruce Springsteen, Ray Charles, Tina Turner, Billy Joel, Diana Ross e Willie Nelson foram directamente para o estúdio, e lá ficaram até o sol raiar. Richie, por sinal, foi o apresentador do AMA, e mesmo assim teve energia para ser uma figura central da música beneficente, actuando como um “solucionador de problemas”.
“Deixe o ego do lado de fora”
Embora o motivo da reunião fosse nobre, Quincy Jones sabia que o ego poderia ser um problema, já que nem todos ali, estavam acostumados a receber ordens e trabalhar como apenas “mais um”. Por isso, o lendário produtor colocou um bilhete na entrada do estúdio que se tornou histórico.
Com tom amigável, mas assertivo, Quincy escreveu em letras garrafais: “DEIXE O SEU EGO DO LADO DE FORA”. Em entrevista, o produtor disse que “jamais teria aceitado a tarefa se já não tivesse trabalhado com metade daqueles artistas”. E não é que todos os presentes respeitaram o recado do mestre?

Bob Dylan demonstrou insegurança
O bilhete de Quincy Jones deu tão certo que até mesmo os cantores mais icónicos se sentiram à vontade para demonstrar vulnerabilidade. Bob Dylan, que já era considerado a maior lenda do folk, sentiu a pressão de estar ao lado de tantas estrelas e aparentou estar desconfortável e tenso na maioria das cenas em que aparece.
Na hora de gravar os versos solo, Dylan não conseguia achar o tom correto para a sua voz – até que Stevie Wonder salvou a noite. Com muito bom humor, ele cantou o trecho destinado a Bob Dylan imitando a sua voz. Decisão ousada, mas que fez o cantor folk dar risada e ganhar de volta a confiança para concluir sua parte. Esse momento tenso e inusitado foi registado nos bastidores.
A maior polémica da carreira de Prince
A maioria dos artistas presentes em “We Are The World” já tinha uma carreira consolidada em décadas passadas, mas apenas um dos convidados estava no topo do planeta naquele janeiro de 1985: Prince, que tinha acabado de vencer dezenas de prémios com o filme Purple Rain. O cantor, inclusivé, tocou o clássico naquela edição do AMA.
Mas na hora de se encaminhar ao A&M Studios, Prince deu para trás. Ele ofereceu-se para fazer um solo de guitarra, mas Lionel Ritchie queria-o no coral, como todos os outros. Especula-se que o principal motivo tenha sido sua rivalidade com Michael Jackson como o “Rei da Pop” naquele momento, e também o facto de que ele não trabalhava bem em grupo.
Prince passou aquela madrugada num restaurante mexicano na vizinhança, esperando uma resolução para o caso. Mas Quincy e os demais se recusaram a fornecer um estúdio separado para ele, e a ausência do cantor na música beneficente se tornou uma das maiores polémicas da sua carreira.
Madonna também não foi, mas por outro motivo
Você pode estar pensando: tá, enquanto os homens estavam regateando pelo título de “Rei da Pop”, onde estava a “Rainha da Pop”? Madonna também não compareceu nas gravações de “We Are the World”, mas por um motivo bem mais objectivo: ela não foi convidada.
Ainda colhendo frutos do sucesso de Like a Virgin (1984), a cantora estava no centro das atenções naquela virada de ano, mas os produtores da música queriam Cyndi Lauper, e acharam que as duas não dividiriam o mesmo estúdio.
Parceiro de Madonna, o guitarrista Nile Rodgers deu uma entrevista dizendo que a artista não foi convidada porque os organizadores acreditavam que ela “não sabia cantar”, e que isso “destruiu o coração dela”. Em julho de 1985, Madonna apresentou-se no Live Aid, mas deixou o palco quando alguns dos intérpretes de “We Are the World” subiram para cantar a canção.